1992.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Margaridas, Matildes, e Tu.

E depois vêm dizer-me que a sociedade está perdida e que nada é como era.
Eu bem me lembro como eram as coisas quando tinhamos a idade da nossa neta! Não éramos melhores, nem piores, éramos iguais!
Tu eras uma menina bem parecida, com o cabelo pelos ombros, liso, sempre muito brilhante, vestías roupas bonitas que te assentavam bem nas curvas e te faziam esbelta, eras menina de saltos altos e pó de arroz, como eras linda!
Tu, com toda esta figura elegante, e eu era apenas um rapaz da classe sei lá bem o quê, mas nem me vestia assim tão mal... mas quando era para te ver, confesso que, vestia a roupa de domingo e ia para a praça ver se passavas só para te poder contemplar, e eu bem sei que no fundo, quando passavas com as tuas amigas do colégio, também olhavas para mim da mesma maneira que eu olhava para ti!
Elas eram todas umas tontinhas, sempre com aqueles risinhos estridentes de adolescentes vazias de pensamento, e tu destacavas-te tão bem no meio delas! O teu riso não era estridente, era meigo e o teu olhar doce fazia-me sonhar que um dia ia ser eu a acompanhar-te pela praça e toda a gente ia invejar a nossa felicidade.
Todas as terças-feiras eu escapava mais cedo da fábrica só para te poder ir mirar na tua janela, escondido entre árvores e arbustos... Um dia tu vieste à varanda e viste-me, eu escondi-me mas tu cahamaste-me e eu, para não parecer mal à frente de uma menina da tua classe, respondi ao teu chamamento e apresentei-me, pedi-te desculpas e tu riste da minha tontice.
Nesse dia percebi que estava realmente apaixonado por ti, e pareceu-me que eu também não te era indiferente!
Sim, sempre tive este "hemisfério" convencido, que no fundo até tem pensamentos bem reais!
Dois anos... Dois anos a namorar-te com os olhos e com palavras, e tu ali a rir-te da minha tontice, mas sei que nunca contaste às tuas amigas parvinhas, elas só souberam desta nossa paixão porque a tua criada Joaquina, que era a grande cuscuvilheira da cidade, contou a toda a gente que te ouvia rir e que me viu entre os arbustos e as árvores. Depois, enchi-me de coragem e fui pedir a tua mão ao teu pai. Quando me viu ficou meio assustado por eu não ser um rapaz de dinheiros e quintas, mas ele sabia que eu gostava muito de ti, e sim, gostava mesmo muito de ti!
A tua mãe é que não achou muita piada e acho que ainda hoje, mesmo estando já no céu, me roga algumas pragas.
Casámos, tratei logo de arranjar uma casinha para nós, ainda que não fosse a casa de prado a que estavas habituada. O teu pai, que sempre foi um grande senhor, ajudou-nos e assim conseguimos construir a nossa vida conjunta.
Depois de três anos de casamento nasceu a Matilde, que linda é a Matilde, em tudo igual a ti, cabelo pelos ombros, liso, esbelta e bem parecida. Com a Matilde veio o Francisco que sempre gostou muito de ajudar e de estudar, sim, estudava mesmo muito este nosso filho e graças a Deus que o conseguimos pôr a estudar na Faculdade, hoje está a projectar mais um estádio de futebol!
A Matilde casou-se com um empresário todo bem parecido, é simpático e fala bem. O Francisco namora com uma rapariga que gosta das pinturas e fala muito comigo sobre a vida, é esperta a moça!
E agora temos a nossa neta Margarida, igual à Mãe, e principalmente, nas parecensas que a Mãe tem com a Avó! És tu, neste novo século XXI acabado e cheio de nada.
É, este século deve ter sido mordido pelo bicho do egocentrismo, porque já ninguém se importa com ninguém a não ser com eles mesmos...
Eu sou para aqui um velho que se enche de alegria e de sorriso de cada vez que nos vejo todos juntos aos domingos, é uma casa cheia, cheia de tudo.
Obrigada minha Musa, por todos estes anos cheios de tudo e vazios de nada!

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