1992.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aranhas.

Vem, vem buscar-me! Estou aqui para ti, como sempre sonhaste!
Agora que me tens, é como se não quisesses saber mais, afinal, já conquistaste!
Parece-me a mim que és igual a todas as outras, dás a volta a cabeça a um gajo com o teu corpo, tens um rosto de anjo, o teu sorriso é tão celestial que quase acreditei que eras menina de coro, com as tuas palavras de guionista fizeste-me um filme tão bem feito, e eu caí na tua teia!
És incrível! É incrível, esta minha estúpidez que não acaba nunca, aliás, eu não aprendo nunca, caio sempre, sempre! E tu, nem precisaste sequer de me beijar para eu ir parar direitinho à tua rede!
Agora, que já me tens, lembras-te de mim quando queres e bem te apetece, não dás sequer pela minha falta, e eu, aqui, como um cão sempre a espera do dono, estou aqui para ti, à tua espera. Mas acho que não vens, nem virás mais... nunca mais.
Acho que mais uma vez, não passou de um conto, do género capuchinho vermelho, em que eu sou a miúda e tu o lobo, mas lembra-te, no final, não foi o capuchinho que acabou com pedras no estômago!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pulseira de Números.

Quando era pequena não sabia contar as horas, nem sabia o que isso era... contar as horas. Sabia que existia a manhã porque era quando eu acordava, depois havia a tarde que vinha depois do almoço e depois era de noite que era quando a minha mãe me vinha buscar ao colégio.
Eu sabia que o relógio servia para contar as horas, só não as sabia contar.
A minha avó dizia que demorava 10 minutos a fazer-me um bolo e eu achava imenso tempo, parecia que aqueles 10 minutos nunca mais acabavam.
Lembro-me que tinha uma educadora de infância no colégio que me desenhava um relógio no pulso e eu achava aquela pulseira "tatuada" engraçada.
Quando entrei para a 2ª classe aprendi a contar as horas e não gostei.
Não gostei porque tornei-me numa criança que só sabia olhar para o relógio, à espera da hora do intervalo ou da hora de saída, e então a professora dizia ao meu pai que eu era distraída e ele zangava-se e dava-me um grande raspanete, mas se calhar a culpa nem era totalmente minha, porque se a minha professora não me tivesse ensinado a contar as horas na 2ª classe eu era uma menina que já não estava concentrada nos números do relógio mas sim nos números da matemática.
Com o tempo tornei-me numa criança sempre guiada e controlada pelo relógio. Até fiquei a adorar usar relógios!
Hoje gostava de voltar, pelo menos um dia, ao tempo em que não sabia contar as horas, ser independente em relação ao tempo e tê-lo todo só para mim!
Acredito que um dia vou ser dona do tempo e vou tê-lo sob o meu controlo e aí vou voltar a não saber contar as horas...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Papel Mágico

Já tenho 18 anos e acho que ainda não fiz nem um quarto daquilo que o destino me traçou.
Em pequena sonhava com o meu futuro, planeava-o todo e até escrevi num papelinho o que queria para a minha vida... e aquilo que eu queria quando tinha cinco anos era ser cabeleireira, cantora, dançarina, pintora, educadora de infância, professora, ginasta, nadadora profissional, e umas tantas outras coisas que já nem me lembro. Quando fiz dez anos já não queria ser tanta coisa, entretanto cresci e como tal, já só queria ser dançarina e cantora. Acho que até tinha um certo jeito, porque eu sabia as músicas todas da Britney Spears e as coreografias de trás para a frente, e então, pegava numa vassoura, fazia dela um microfone e ia cantar para as flores do jardim da minha avó.
Depois, fui para outra etapa da minha vida, uma etapa muito parva, em que se entra quando temos mais ou menos doze ou treze anos, a minha mãe chama-lhe a idade do armário, mas eu chamo-lhe a idade da parvoíce, em que nos sentimos muito incompreendidas, em que qualquer pessoa é boa para lhe chamarmos melhor amiga, e no mesmo dia em que lhe passamos esse rótulo uma discussão sobre a cor da flor do jardim da escola corre mal e então passa a ser a pior pessoa do mundo. É uma idade em que começamos a descobrir que afinal os meninos já não são uns chatos e uns totós, afinal eles até são um animal interessante que por quem, queiramos ou não, acabamos sempre por nos apaixonar. Como ainda só tinha treze anos ainda me apaixonava em segredo, e o meu primeiro namorado, que nem sei se era um namorado a sério ou não, mas foi a quem eu dei o meu primeiro beijo a sério, aquele beijo que nos faz levantar o pé e pensar que estamos num mundo paralelo, foi aos catorze anos.
Com essa idade passou-me pela ideia o fanatismo por desenhar roupas, e confesso que até gostava de ser alguém que desenha roupas, vê-las em pessoas famosas que adoraram o nosso modelo e que nos pagam o que for preciso para ter aquele exclusivo.
Contudo, acho que tudo aquilo que eu escrevi num papelinho para o meu futuro se realizou...
Às vezes sou cabeleireira porque pinto o cabelo à minha mãe ou à minha avó, e até tenho jeito para a coisa, às vezes sou cantora porque vou a um bar de karaoke e canto, nem que seja só para ver uma amiga sorrir, às vezes sou dançarina porque quando saio à noite danço, danço muito, às vezes sou pintora porque me armo em Kandinsky e pinto umas coisas, também sou educadora de infância porque fico a tomar conta das minhas primas, também já fui ginasta porque neste ano lectivo tive de fazer uma demonstração e até tenho um jeitito para fazer espargatas, e já fui nadadora profissional porque já andei na natação e de vez em quando nado na praia ou na piscina. Só ainda não fui professora, mas como isso está escrito no papelinho sei que um dia vou ser professora também!
Mas aquilo que eu quero agora é voltar a escrever num papelinho aquilo que eu quero para o meu futuro, porque, afinal, o papel é mágico e faz com que tudo se realize.

domingo, 4 de abril de 2010

Tia Forreter

Hoje abri o meu caderno onde desenho várias letras e tentei escrever algo que conseguisse representar-te.
Não entendi porquê mas não consegui escrever nada. Desde que partiste que os dias se tornaram mais escuros.
A tua presença era essencial em mim, e parece que para o meu hemisfério onde guardo a escrita também. O teu abraço e o teu colo faziam-me sentir confortável, como se nada pudesse atingir-me, e agora que penso sempre me acariciaste a mão direita de forma diferente, e lembro-me de me dizeres para cuidar bem dela, que me ia ser muito útil. Naquela altura não sabia a que te referias mas a verdade é que aquelas palavras tão repetitivas me fizeram ter um amor incondicional à mão direita, que ainda hoje tento sempre livra-la de qualquer perigo, ainda que não esteja a contar com ele, mas nem sempre posso esconde-la das suas funções de auto ou hetero ajuda.
Tenho saudades tuas, e do teu colo, principalmente agora.
Sempre me disseste que eu era uma reguila e inquieta, mas a verdade é que quando ias a minha casa dizias sempre que nem me ouvias, dizias que eu me concentrava muito nas minhas bonecas e realmente era verdade. Eu gostava muito de brincar com as bonecas e tu sabias melhor que ninguém que eu gostava. Às vezes chateava-te para vires brincar comigo, esquecia-me que eras adulta e que não tinhas idade para brincar com bonecas, mas só para me ver mais feliz até vinhas brincar comigo.
Sabes, eu acho que qualquer idade é idade para brincar com bonecas, mas hoje as meninas já não querem brincar com elas... já não lhes dão o valor que eu ou tu lhe davamos, e eu tenho pena disso.
Lembro-me muito do teu sorriso e lembro-me como rias de cada vez que te chamava! Eu era pequena e não entendia o porquê de tanta piada... se calhar era por não saber pronunciar o teu nome, que era realmente um pouco estranho, apesar de ser um apelido que te foi dado pela minha mãe. Sim, ela continua a dar nomes a toda a gente!
Eu já tenho 18 anos e sei como gostarias de me ver agora, uma menina crescida, quase a entrar para a faculdade que até já anda de saltos altos e até já tem um namorado... sei que se ainda estivesses aqui ias querer brincar comigo às bonecas!
Espero que aí onde tu estás haja um pombo correio que consiga vir buscar estas letras soltas para que as possas ler e mandar-me daí um raio de sol mais forte só para eu poder ver que as recebeste.
Bem, tenho de ir dormir...
Amanhã vou voltar a abrir o meu caderno onde desenho várias letras e pode ser que saia qualquer coisa que te consiga representar.

Um beijinho.

Cabelo "à fozeiro"

Tinhas 10 anos quando te conheci, eras mais pequeno que eu, sim porque nessas idades as meninas crescem mais rápido que os meninos, e apesar de até gostar das aulas de ciências nunca percebi bem porquê.
Andavas no 5º ano e eu também, mas éramos de turmas diferentes. Estavas sempre rodeado de outros meninos, mas nenhum deles se destacava como tu. Tu eras diferente de todos, eras muito desportista, "só vias bola à frente", andavas vestido de maneira diferente dos teus amigos, andavas mais na moda, sim, eu sabia que tu é que andavas mais na moda, porque como era menina que também tinha 10 anos mas que cresce mais rápido que tu, já me interessava por essas coisas das modas e das passereles e das fotografias das revistas com meninos mais velhos todos cheios de pinta! E tu eras como eles, cheio de pinta! Andavas com jeans gastos, e às vezes eram rotos, o que te dava uma certa piada! E se calhar até foi por causa dos teus jeans gastos e de vez em quando rotos que agora andamos todos com jeans rotos! Usavas uns ténis brancos, outras vezes eram brancos e azuis ou pretos e vermelhos, lembro-me que gostavas muito de andar de vermelho, tinhas muitas t-shirts e sweats vermelhas! Mas o que te dava aquele toque especial era o teu cabelo grande, como se diz "à fozeiro", e despenteado. Ai, como eu delirava com o teu cabelo! Tinhas algo que te acompanhava sempre: um chupa-chupa!
Mas eu era só mais uma menina como as outras, apesar de me achar mais na moda do que as outras, é que, vou contar um segredo, eu às vezes imitava as meninas das fotografias das revistas e vestia-me como elas! Não sei se reparavas em mim ou não, mas, vou contar outro segredo, às vezes vestia-me assim para ver se reparavas em mim!
Confesso que, como estava numa escola onde havia meninas mais velhas do que eu, comecei a interessar-me por impressionar os meninos com uma t-shirt mais colorida ou umas calças diferentes!
Passei uns 2 ou 3 anos a tentar impressionar-te mas nunca consegui, acho eu, e portanto desisti...
Aqui há dias vi-te na paragem do metro, já estás maior do que eu, mas continuas a usar o cabelo como eu sempre gostei!
Agora já não és um menino mais pequeno do que eu, diferente de todos os outros meninos! Agora és mais um gajo com uma t-shirt colorida, uns jeans gastos e umas sapatilhas iguais às de todos! E em vez do teu chupa-chupa, até já andas de cigarro na boca...

sábado, 3 de abril de 2010

28 anos.

Como se tivesses muita moral para falar!
Tu que mentes com cada osso que tens no corpo, sim porque já não te chegam os dentes para contar as tuas mentiras!
Estou farta das tuas invensões e mecanismos para encobrir mais um capricho teu que sabes que mais cedo ou mais tarde eu vou descobri-lo! A mentira tem perna curta, não sabias?
Estou casada contigo há 28 anos e nunca percebi que eu era tão estúpida! Como é possível aguentar as tuas negociações obscuras e os teus presentes pessoais sem sequer me dares uma satisfação de nada? Queixas-te que gasto muito no meu ÚNICO vício mas tu... tu já nem tens pouso para todas as merdices que compras, sim são meras merdices!
Olha para o teu lado direito... sim, olha! Não vês como está o teu filho? Ele próprio tem de te emprestar dinheiro que ele pensa que é para ajudar, e no final do dia apareces com mais uma gerengonça nova e continuas a dizer que eu gasto muito dinheiro.
Isso acabou, tem de acabar! Eu já não aguento mais mentiras.
Vem Zé Diogo, vem, sobe ao colo da mãe, vamos para um sítio onde ninguém compra merdices nem gerengonças...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Margaridas, Matildes, e Tu.

E depois vêm dizer-me que a sociedade está perdida e que nada é como era.
Eu bem me lembro como eram as coisas quando tinhamos a idade da nossa neta! Não éramos melhores, nem piores, éramos iguais!
Tu eras uma menina bem parecida, com o cabelo pelos ombros, liso, sempre muito brilhante, vestías roupas bonitas que te assentavam bem nas curvas e te faziam esbelta, eras menina de saltos altos e pó de arroz, como eras linda!
Tu, com toda esta figura elegante, e eu era apenas um rapaz da classe sei lá bem o quê, mas nem me vestia assim tão mal... mas quando era para te ver, confesso que, vestia a roupa de domingo e ia para a praça ver se passavas só para te poder contemplar, e eu bem sei que no fundo, quando passavas com as tuas amigas do colégio, também olhavas para mim da mesma maneira que eu olhava para ti!
Elas eram todas umas tontinhas, sempre com aqueles risinhos estridentes de adolescentes vazias de pensamento, e tu destacavas-te tão bem no meio delas! O teu riso não era estridente, era meigo e o teu olhar doce fazia-me sonhar que um dia ia ser eu a acompanhar-te pela praça e toda a gente ia invejar a nossa felicidade.
Todas as terças-feiras eu escapava mais cedo da fábrica só para te poder ir mirar na tua janela, escondido entre árvores e arbustos... Um dia tu vieste à varanda e viste-me, eu escondi-me mas tu cahamaste-me e eu, para não parecer mal à frente de uma menina da tua classe, respondi ao teu chamamento e apresentei-me, pedi-te desculpas e tu riste da minha tontice.
Nesse dia percebi que estava realmente apaixonado por ti, e pareceu-me que eu também não te era indiferente!
Sim, sempre tive este "hemisfério" convencido, que no fundo até tem pensamentos bem reais!
Dois anos... Dois anos a namorar-te com os olhos e com palavras, e tu ali a rir-te da minha tontice, mas sei que nunca contaste às tuas amigas parvinhas, elas só souberam desta nossa paixão porque a tua criada Joaquina, que era a grande cuscuvilheira da cidade, contou a toda a gente que te ouvia rir e que me viu entre os arbustos e as árvores. Depois, enchi-me de coragem e fui pedir a tua mão ao teu pai. Quando me viu ficou meio assustado por eu não ser um rapaz de dinheiros e quintas, mas ele sabia que eu gostava muito de ti, e sim, gostava mesmo muito de ti!
A tua mãe é que não achou muita piada e acho que ainda hoje, mesmo estando já no céu, me roga algumas pragas.
Casámos, tratei logo de arranjar uma casinha para nós, ainda que não fosse a casa de prado a que estavas habituada. O teu pai, que sempre foi um grande senhor, ajudou-nos e assim conseguimos construir a nossa vida conjunta.
Depois de três anos de casamento nasceu a Matilde, que linda é a Matilde, em tudo igual a ti, cabelo pelos ombros, liso, esbelta e bem parecida. Com a Matilde veio o Francisco que sempre gostou muito de ajudar e de estudar, sim, estudava mesmo muito este nosso filho e graças a Deus que o conseguimos pôr a estudar na Faculdade, hoje está a projectar mais um estádio de futebol!
A Matilde casou-se com um empresário todo bem parecido, é simpático e fala bem. O Francisco namora com uma rapariga que gosta das pinturas e fala muito comigo sobre a vida, é esperta a moça!
E agora temos a nossa neta Margarida, igual à Mãe, e principalmente, nas parecensas que a Mãe tem com a Avó! És tu, neste novo século XXI acabado e cheio de nada.
É, este século deve ter sido mordido pelo bicho do egocentrismo, porque já ninguém se importa com ninguém a não ser com eles mesmos...
Eu sou para aqui um velho que se enche de alegria e de sorriso de cada vez que nos vejo todos juntos aos domingos, é uma casa cheia, cheia de tudo.
Obrigada minha Musa, por todos estes anos cheios de tudo e vazios de nada!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Adrenalina

7h30 da manhã. É a hora que o meu despertador marca. Levanto-me, e dirijo-me ao quarto de banho, ligo as torneiras do chuveiro e tomo um duche rápido para não me atrasar para o emprego.
Depois do banho, visto o meu fato cinzento, visto a minha camisa azul e coloco a minha gravata cinzenta que comprei faz amanhã um mês, calço os meus sapatos novos de director de um banco e vou tomar o pequeno-almoço.
Depois desta rotina matinal, dirijo-me ao meu carro empresarial novo e sigo caminho para o escritório.
Tenho 32 anos, sou jovem, porém estou sozinho e sinto-me um solteirão nerd, chato e desinteressante.
Trabalho num escritório bem importante, sou Engenheiro Naval e tenho de usar fato todos os dias. Estou todos os dias às 9h00 certinhas para mais um dia cansativo, com cálculos e reuniões, com telefonemas, almoços e por vezes jantares chatos com todos os directores e outros engenheiros. Durante esses jantares, só penso em sair dali, só penso naquilo que realmente amo - a velocidade.
Todos os dias da minha vida digo para mim que um dia vou ser corredor, que vou ganhar rios de dinheiro em corridas ilegais em circuitos ilegais, vou comprar um bruto de um carro, vou investir na sua modificação e vou ser melhor que os gajos da fórmula 1! Com este sucesso todo não me vão faltar gajas! O dinheiro vai fervilhar-me nas mãos e não vou precisar mais de trabalhar na vida!
É isto que eu quero!
E depois de todo este sonho aqui contado, de todos estes pensamentos que me deixam na lua caio em mim e estou a discutir mais uma construcção de uma obra que se destina à exploração do mar, ou então estou a decidir as fases de vida dos veículos e plataformas destinadas ao transporte marítimo, à exploração dos recursos marinhos e as actividades de recreio. Ah! Ainda faltam as tarefas de planejamento e gestão das operações marítimas e portuárias.
Não passo de um gajo nerd, chato e desinteressante que precisa de adrenalina!

"Não sei se um dia vou ter um namorado, ou se vou tendo"

A minha tia chama-se Patrícia, tem um cabelo grande e ondulado, anda com um carro descapotável de menina e tem muito estilo.
Ela é uma mulher muito bonita e é toda jeitosa, parece uma actriz dos filmes que vejo na TV, veste roupas mesmo bonitas, é solteira e independente, tal como eu queria ser.
Às vezes ela vai buscar-me à escola e as minhas amigas dizem que até sou parecida com ela, e os meninos ficam todos a olhar para nós as duas, às vezes penso que olham mais para ela porque ela é mesmo bonita!
Vamos passear muitas vezes, vamos até ao shopping e fazemos muitas compras de menina, ela gosta muito de mim e diz-me coisas muito bonitas.
Ela não tem namorado, vai tendo, e diz-me para nunca querer ter um namorado, para ir tendo.
Quando ela se encontra com amigas dela, às vezes têm conversas que eu não entendo. Não entendo porque sou uma menina pequena, tenho só oito anos, ainda não atinjo tudo.
Eu falo muito com ela, ela pergunta-me muitas vezes se acho algum menino da escola giro e eu digo que não, os meninos são todos uns totós e uns chatos. Também me pergunta se as minhas amigas gostam de mim e eu digo que acho que sim, digo que há a Rita que é muito minha amiga, que estamos sempre juntas e que rimos muito, também há a Leonor que está a maior parte do tempo comigo e com a Rita, às vezes combinamos e levamos as nossas Barbies para a escola, às escondidas das nossas mães senão elas zangam-se. As únicas meninas que eu gosto menos, sim porque não há ninguém de quem nós não gostemos, há sim pessoas que nós gostamos menos, e de quem eu gosto menos é da Felipa e da Andreia, elas são um bocadinho más, roubam-nos as borrachas e os lápis, e de vez em quando fazem asneiras e dizem que fui eu, ou a Rita, ou a Leonor, às vezes até dizem que foi um menino ou outro, e isso não se faz, e por isso que eu gosto menos delas.
A minha Tia Patrícia diz-me para não ligar a essas meninas que elas são umas parvinhas e que um dia quando crescerem vão arrepender-se daquilo que fazem agora. E eu faço o que ela me diz, não lhes ligo e divirto-me muito com a Rita e a Leonor.
Também falo com a minha Tia sobre a escola, ela pergunta-me como estão as minhas notas e eu digo que gosto muito da escola e que até tiro boas notas. Ela gosta muito das minhas redacções e diz que eu escrevo histórias muito bonitas e que um dia vou ser escritora. Não sei se um dia vou ser escritora ou não, nem sei se a Felipa e a Andreia um dia se vão arrepender de fazer asneiras e de culpar os outros meninos, não sei se um dia vou ter um namorado, ou se vou tendo, mas sei que eu a minha Tia Patrícia vamos ser sempre muito amigas e vamos passear muito e vamos fazer muitas compras de menina.
Gosto muito de ti Tia Patrícia, um beijinho.

1998 - 2002



Eram 16h30 e o sol ainda brilhava, tanto como o brilho do seu olhar.
Já a via no portão, ainda eu estava na sala de aula... quando foi dada a ordem de saída corri o mais que pude para lhe dar um beijinho com entusiasmo, e contar-lhe todas as letras que tinha aprendido naquele dia. Atenta, ouvia o meu discurso de menina e carregando a minha pesada mochila, perguntava se eu queria ir lanchar à pequena confeitaria perto do colégio, eu dizia com o maior sorriso do mundo, sim.
Tomado o leite com chocolate a meia torrada, voltava a devendar o mistério das ciências e a contar os números da matemática, saltando até à paragem do autocarro (...)
Com o coração nas mãos dizia-me "Joana tem cuidado com os carros" e eu apesar de muito feliz, amuava por não poder correr como corria o seu sentimento por mim. Eram 17h, e eu chegava a casa, corria para os braços dele e insistia para ir andar de mota, fazendo-me a vontade "encaixava-me" no lugar de trás da vermelha scooter. Íamos até à praia, ver o mar e o sol a brilhar, tanto quanto o meu estupefacto rosto de admiração. Depois, voltando a casa de novo fazia os deveres com a 'vigilância' dela, vendo os desenhos animados que tanto gostava.
Hoje, restam apenas lembranças dos lanches, dos passeios, dos deveres, mas o sentimento e a alegria existem e existirão para sempre!
Graças a eles, aqueles quatro anos tornaram-se memórias que irão permanecer para sempre.
Graças a eles, cresci, amadureci e sou o que sou hoje.
É por todos os dias que vos agradeço, obrigada, avozinha e avozinho.