1992.

domingo, 4 de abril de 2010

Tia Forreter

Hoje abri o meu caderno onde desenho várias letras e tentei escrever algo que conseguisse representar-te.
Não entendi porquê mas não consegui escrever nada. Desde que partiste que os dias se tornaram mais escuros.
A tua presença era essencial em mim, e parece que para o meu hemisfério onde guardo a escrita também. O teu abraço e o teu colo faziam-me sentir confortável, como se nada pudesse atingir-me, e agora que penso sempre me acariciaste a mão direita de forma diferente, e lembro-me de me dizeres para cuidar bem dela, que me ia ser muito útil. Naquela altura não sabia a que te referias mas a verdade é que aquelas palavras tão repetitivas me fizeram ter um amor incondicional à mão direita, que ainda hoje tento sempre livra-la de qualquer perigo, ainda que não esteja a contar com ele, mas nem sempre posso esconde-la das suas funções de auto ou hetero ajuda.
Tenho saudades tuas, e do teu colo, principalmente agora.
Sempre me disseste que eu era uma reguila e inquieta, mas a verdade é que quando ias a minha casa dizias sempre que nem me ouvias, dizias que eu me concentrava muito nas minhas bonecas e realmente era verdade. Eu gostava muito de brincar com as bonecas e tu sabias melhor que ninguém que eu gostava. Às vezes chateava-te para vires brincar comigo, esquecia-me que eras adulta e que não tinhas idade para brincar com bonecas, mas só para me ver mais feliz até vinhas brincar comigo.
Sabes, eu acho que qualquer idade é idade para brincar com bonecas, mas hoje as meninas já não querem brincar com elas... já não lhes dão o valor que eu ou tu lhe davamos, e eu tenho pena disso.
Lembro-me muito do teu sorriso e lembro-me como rias de cada vez que te chamava! Eu era pequena e não entendia o porquê de tanta piada... se calhar era por não saber pronunciar o teu nome, que era realmente um pouco estranho, apesar de ser um apelido que te foi dado pela minha mãe. Sim, ela continua a dar nomes a toda a gente!
Eu já tenho 18 anos e sei como gostarias de me ver agora, uma menina crescida, quase a entrar para a faculdade que até já anda de saltos altos e até já tem um namorado... sei que se ainda estivesses aqui ias querer brincar comigo às bonecas!
Espero que aí onde tu estás haja um pombo correio que consiga vir buscar estas letras soltas para que as possas ler e mandar-me daí um raio de sol mais forte só para eu poder ver que as recebeste.
Bem, tenho de ir dormir...
Amanhã vou voltar a abrir o meu caderno onde desenho várias letras e pode ser que saia qualquer coisa que te consiga representar.

Um beijinho.

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