1992.

sábado, 1 de maio de 2010

Cozinhados.

Mais uma vez, lá estava eu à tua espera. Eram 22h00 e eu estava à tua espera para jantar, de novo.
Sou uma parva, estrago comida todos os dias do mês, estrago a tua e a minha, ou achas que depois de me deixares duas horas à tua espera ainda tenho algum apetite para comer seja o que for?
Não entendo porque é que depois de tantos anos casada contigo eu ainda espero por ti, a sério que não entendo. É que já não é a primeira vez, ou a segunda, ou a terceira, há dez anos que espero por ti, mas tu nunca chegas para me acompanhares num gole do copo de vinho tinto ou numa garfada do bacalhau com natas que tu gostavas tanto que eu cozinhasse.
Há momentos em que penso que o defeito é meu, e se calhar até é. Se calhar sou eu que sou má mulher, má dona de casa, má cozinheira, má esposa, má... mas se o defeito é realmente meu, diz-me! Prefiro que me magoes com a verdade do que me mates com a mentira, é o que todos dizem, e eu faço parte desse "todos".
Explica-me por favor o porquê desses atrasos, é que eu não consigo perceber... ou melhor, se calhar até consigo, mas não quero. Não quero pensar sequer no motivo mais óbvio, não tenho estômago, muito menos coração para pensar nisso, quanto mais para ter a certeza de que realmente arranjaste outra, uma que te faz sentir mais homem, mais marido, mais capaz, ou então que cozinha melhor que eu e o bacalhau com natas dela te satisfaz mais do que o meu...
Chegas por fim, eu estou no sofá, adormeci entretanto, mas como estive sempre com as antenas no ar, dou pela tua chegada e acordo, tu das-me um beijo e dizes-me que tiveste um dia mau, que os teus colegas de trabalho são todos uns falsos e que ninguém dá valor ao teu trabalho, e eu ouço, atenta, o teu dia, e tu, nem me perguntas como estou, quanto mais como foi o meu dia.
Vê se entendes que eu já me cansei de estar à tua espera!

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